quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Exercitando o perceber.




Exercitando o perceber!

   Quando eu tinha uns 12 anos, meus cabelos eram compridos, despontados porem lisos.
  Eu morava em uma casa com um quintal  bem grande e aconchegante.
Lá havia um canteiro de roseiras, e três árvores frutíferas,  um jambeiro, uma goiabeira e uma ameixeira.  Também uns três pés de café.
   Tudo plantado por meus avós maternos.
   Nessa época, meu avô já não estava mais entre nós e minha avó morava só, mas sempre nos visitava durante a semana.
   Numa tarde, sentada no murinho do canteiro das roseiras, eu olhava aquele quintal, o sol estava mais fraco, já era quase 17h.  Eu me peguei admirando  aquelas árvores, pensando que as via desde pequena, lembrando que elas eram meus brinquedos de infância. Meu avô fazia balanço na ameixeira, subíamos sempre na goiabeira, eu e meu irmão.   E o jambeiro era uma árvore incomum aqui em São Paulo.
    Eu estava curiosa pra saber   de que raio de lugar veio aquela árvore.   Rsrsrsrs 
   Minha avó chegou.
   Ahhh, mais que rápido já fui perguntando.
 _ Vó, esse pé de jambo veio de onde vó.
   Foi a conversa mais longa que tive com minha avó.   Ela me contou que onde ela morava em Pernambuco, havia muito jambo, ela trouxe de lá quando veio pra São Paulo. Se você  pensa que foi só isso, você se engana. 
  Minha conversa com minha avó foi muito além do que eu esperava, enquanto aquela senhora de cabelos branquinhos e olhos verdinhos, falava, eu viajava na minha imaginação.   Os rios em que ela se banhou com amigos,  a feira de Caruaru que ela adora ir, a cocada de goiaba,  isso mesmo,   de goiaba!  Ela até fazia  a cocada de vez em quando.
   Enquanto ela falava eu exercitava o perceber. 
  Percebia que ali a minha frente havia uma mulher, que um dia foi criança, moça, e que aproveitou dos momentos felizes de sua vida simples, admirando rios, árvores, feiras,  coisas que pra mim, naquela época eram raras.
   Tudo o que ela me disse, ficou comigo porque enquanto ela falava eu imaginava as cenas, eu percebia a satisfação dela em conversar comigo.
   Trocamos muito naquela tarde.
   Hoje ela não esta mais aqui, mas eu posso dizer que percebi minha avó. E que hoje que sou mãe, percebo meus filhos, meus sobrinhos, meus irmãos, pois exercitei o perceber com alguém que já estava aqui a mais, bem mais tempo que eu.  
   Ela era sua bisavó Larissa, e se chamava Quitéria.


  
  

Um comentário:

  1. Nossa tia que lindo,eu me sint do mesmo jeito quando falo com minah bisavo ou com minha avo.Eu adorei o jeito que você levou o texto,ficou involvente e o final tbm!!...Adorei,adorei msm!

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